marcio ferreri
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segunda-feira, 2 de maio de 2016
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Semiotica e Ilustração
Vivemos em uma sociedade
que se vê intensamente entrelaçada pela tecnologia de informação, num ambiente
de troca intensa de informações e processos que visam produção de mensagens e sentidos
por meio de uma variedade de linguagens dos meios de comunicação. A ilustração
faz parte desse ambiente onde o significado se apresenta como valor central. Para
compreender melhor esse ambiente dominado por diversas mídias e mensagens, a
semiótica, ciência que estuda os signos e as linguagens, torna-se uma
ferramenta indispensável para o profissional de ilustração, de maneira tal que,
seu papel, não pode mais ser mais reduzido e negligenciado na carreira de
qualquer profissional de comunicação visual.
A semiótica é a ciência
geral dos signos e da significação, mas o que vem a ser signo? De uma forma simples, podemos compreender que, signo é o núcleo ou
elemento mais simples que pode ser encontrado no meio do processo de
comunicação ou significação. Na comunicação, o emissor tem a função de passar a
mensagem para o destinatário, essa mensagem (na forma de texto ou imagem), pode
ou não ser compreendida pelo destinatário que tem por trabalho interpretar,
reagir ou rejeitar a mensagem. O signo pode ser pensado, inicialmente, como uma
espécie particular de instrumento, elaborado para funções comunicativas como,
por exemplo: uma fotografia, uma escrita, um desenho, um vídeo ou uma
ilustração.
Signo,
de modo mais técnico, é aquilo que representa
algo para alguém: é aquilo que passa uma mensagem ou uma informação de algo para
alguém e, está no lugar deste algo. Por exemplo: quando vemos uma pintura de
uma maçã, a pintura da maçã não é a maçã (enquanto coisa) e sim uma reapresentação
da maçã com o aspecto que a pintura pode representar a maçã. Uma pintura não
pode representar todos os aspectos da maçã: ela reapresenta somente o aspecto
visual e bidimensional da maçã. Outros aspectos como, o sabor, o cheiro, o
volume tátil, a textura material da maçã e outras qualidades ficam de fora da
pintura. E por mais que fosse possível haver um signo que representa o máximo
dos aspectos característicos de uma determinada maçã, ainda seria uma
representação, uma reprodução daquela maçã e não a própria maçã. Há um quadro
do pintor belga, René Magritte (1898 - 1967) que brinca com essa natureza do
signo. Veja abaixo:
Um signo é aquilo que
representa algo, em certo aspecto.
Cada linguagem representa algo de acordo com sua potencialidade de
representação. Uma fotografia representa uma maçã de forma diferente de um
vídeo, de uma ilustração, de uma escultura, etc. Uma escultura tem o potencial
de representar aspectos tridimensionais da maçã; Uma fotografia representa
muitos detalhes visuais (textura, cores, tons); Uma ilustração tem o potencial
de representar a maçã de forma imaginaria: na ilustração, uma maçã pode ser
estilizada, ou tornar-se um personagem com olhos, nariz, boca, pernas e braços
e fazer parte de uma campanha publicitária para venda de maçãs. Desse modo,
podemos concluir que um signo, além de representa algo sobre certo aspecto, também
pode acrescentar outros aspectos e produzir mensagens diversas e novos sentidos.
Essa noção é importante para quem quer se tornar um ilustrador, pois a
ilustração é um signo e, o trabalho do ilustrador consiste na representação: na
produção mensagens e sentidos por meio de imagens artísticas e digitais.
A
Ilustração como signo.
Geralmente nas mídias, temos
dois tipos predominantes de signos: o linguístico - que seria o texto escrito;
E a imagem - que pode ser uma fotografia, uma ilustração figurativa ou ilustração
abstrata.
A
escrita ou o signo linguístico, seu processo de significação (ou semiose),
ocorre por uma representação de um signo que é bem diferente da coisa a ser
representada. A ilustração figurativa, um signo icônico, seu processo
de significação (semiose) ocorre por um processo de
semelhança com a coisa que ela pretende representar, um processo lógico, quase
natural, por analogia. Por exemplo: o desenho de uma maçã (signo icônico), não
é a maçã real, mas a representação gráfica e icônica da maçã. Icônica significa
semelhante. Ao olharmos para o desenho (signo icônico) e para a referência
(imagem da fruta), que foi fonte para o desenho, perceberemos a semelhança
visual entre ambos, de modo que, não faremos esforço para reconhecer a
semelhança e assumir a ideia da maçã representada no desenho. Diferentemente
seria se olharmos para a palavra escrita “maçã” e a fruta, onde veremos que não
há semelhança alguma entre o signo verbal “maçã” e a fruta. Veja abaixo:
A icônicidade da imagem pode ser variada, e ir desde a
fidelidade realística vista na fotografia e nos retratos realistas da pintura
clássica, até a sugestão de uma semelhança nos desenhos estilizados:
caricatura, retrato impressionista ou mesmo nos efeitos de deformação feito por
um software numa fotografia. (Bordenave,1986, p.40). Abaixo vemos que a
representação icônica de um rosto pode ser mais para o lado realista ou para o
lado cartunizado ou linear:
O trabalho de estilização, não só produz um
aspecto visual diferente, mas também, produz diferentes significados. Por
exemplo: uma ilustração realista pode conotar mais seriedade, enquanto uma
ilustração cartunizada, conota ludicidade. Desse modo, ela pode ser utilizada
para atingir objetivos comunicacionais específicos e públicos distintos.
Vimos que a ilustração é um signo, isto implica
dizer que ela é um tipo de texto, que temos, como ilustrador profissional,
aprender a produzir, ler, interpretar esse tipo de texto icônico. É o que
veremos no próximo tema: leitura e analise de imagens.
Referencia bibliográfica:
BOADERNAVE,
Juan E. Diaz. Além dos meios e mensagens - Introdução á comunicação processo,
tecnologia, sistema e ciência. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.
JOLY, Martine. Introdução á Analise da Imagem.
São Paulo: Papirus, 2008.
PERUZZOLO, Adair Caetano. Elementos de
Semiótica da Comunicação - quando aprender é fazer. São Paulo: EDUSC, 2004.
VOLLI, Ugo. Manual de Semiótica. São Paulo: Edições Loyola, 200
Por: Marcio Ferreira de Araujo Miyazato é professor da Formação Profissional de Ilustração na Fundação Bradesco - Osasco.
Ilustração: Sintaxe, semântica e pragmática.
Sintaxe, semântica e pragmática.
Vimos anteriormente, que a ilustração e o desenho distinguem-se,
principalmente, por seus objetivos ou finalidades, dito de outro modo, seu uso
ou dimensão pragmática.
Vamos utilizar três termos do estudo da linguagem para
compreender melhor essa distinção entre ilustração e desenho artístico em
relação sua função como linguagem e mídia. Observe a figura abaixo:
O termo sintaxe vem do grego sin (junto, ao lado de), taxe (conduzir) que significa colocar
conduzir junto ou ao lado. Os aspectos sintáxicos ou sintáticos são os aspectos
da composição dos elementos visuais ou gráficos da imagem como: cor,
tonalidade, textura, orientação e disposição espacial entre as figuras, formas
e outros elementos visuais. Na imagem acima, temos uma composição entre um
fundo de uma paisagem com predominância de cores frias e neutras, com
predominância do verde e é bem dividida espacialmente da figura do personagem,
em primeiro plano, com cores quentes. Apesar do contraste à uma harmonia entre
verde vermelho que são cores complementares.
O cenário predomina no espaço acima da composição enquanto o personagem
fica abaixo, etc. Informações desse tipo, mais visual ou gráfico que consideramos
à dimensão sintáxica da imagem.
O
semântico refere-se ao conteúdo ou
ideia que lemos na compreensão da imagem. Trata-se do significado ou a mensagem
que ela produz. Por exemplo, percebemos na imagem, um cenário arborizado, com
casas vista de cima e, a frente um garoto criativo e aventureiro com seu
carrinho de rolimã voador. A dimensão semântica é a dimensão do significado da
mensagem da imagem.
A dimensão pragmática pode se referir ao uso, no sentido de efeito da mensagem
no público, quanto também, implicar no sentido utilitário do termo. A imagem
acima do cenário arborizado, com casas vista de cima e, à frente um garoto
criativo e aventureiro com seu carrinho de rolimã voador, pode produzir um
efeito contemplativo lúdico ou divertido, passar uma sensação de aventura,
adrenalina e até mesmo estimular o público buscar uma aventura, refletir no
tema da criatividade ou das invenções da humanidade, etc. Devido a esse
potencial de produzir efeito é que essa imagem pode ser apropriada como
instrumento de comunicação, propaganda ou como objeto de exposição. Vamos
observar abaixo essa questão do uso no sentido utilitário:
Acima à esquerda, o desenho
pode, em determinado contexto, ser utilizado como uma arte para uma exposição,
onde seu tema transmite a ideia de aventura e criatividade. À direita, o
desenho teve acréscimo de outras informações e foi aplicado a um cartaz de
comunicação visual para um evento de feira de quadrinhos, nesse momento, o
desenho é utilizado para atender uma necessidade de comunicação e marketing de
um cliente, agora numa relação de fins comerciais, e não mais, uma necessidade
de expressão pessoal do artista, logo, passou a ser uma ilustração. A ideia, de aventura e criatividade, foi deslocada
e explorada para a composição da mensagem de um cartaz publicitário, com
objetivo de passar uma mensagem para atrair um determinado público para um
evento de mercado. Para concluir, podemos dizer que o valor pragmático e
utilitário do desenho artístico, vai em direção ao contemplativo e ao estético,
enquanto, na ilustração a direção é ideológica e mercadológica. Essa distinção
se faz cada vez mais necessária na área da ilustração, para o ilustrador,
enquanto profissional, possa demarcar um lugar ético e uma identidade definida
e seu valor na sociedade.
Por: Marcio Ferreira de Araujo Miyazato é professor da Formação Profissional de Ilustração na Fundação Bradesco - Osasco.
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