Vimos anteriormente, que a ilustração e o desenho distinguem-se,
principalmente, por seus objetivos ou finalidades, dito de outro modo, seu uso
ou dimensão pragmática.
Vamos utilizar três termos do estudo da linguagem para
compreender melhor essa distinção entre ilustração e desenho artístico em
relação sua função como linguagem e mídia. Observe a figura abaixo:
O termo sintaxe vem do grego sin (junto, ao lado de), taxe (conduzir) que significa colocar
conduzir junto ou ao lado. Os aspectos sintáxicos ou sintáticos são os aspectos
da composição dos elementos visuais ou gráficos da imagem como: cor,
tonalidade, textura, orientação e disposição espacial entre as figuras, formas
e outros elementos visuais. Na imagem acima, temos uma composição entre um
fundo de uma paisagem com predominância de cores frias e neutras, com
predominância do verde e é bem dividida espacialmente da figura do personagem,
em primeiro plano, com cores quentes. Apesar do contraste à uma harmonia entre
verde vermelho que são cores complementares.
O cenário predomina no espaço acima da composição enquanto o personagem
fica abaixo, etc. Informações desse tipo, mais visual ou gráfico que consideramos
à dimensão sintáxica da imagem.
O
semântico refere-se ao conteúdo ou
ideia que lemos na compreensão da imagem. Trata-se do significado ou a mensagem
que ela produz. Por exemplo, percebemos na imagem, um cenário arborizado, com
casas vista de cima e, a frente um garoto criativo e aventureiro com seu
carrinho de rolimã voador. A dimensão semântica é a dimensão do significado da
mensagem da imagem.
A dimensão pragmática pode se referir ao uso, no sentido de efeito da mensagem
no público, quanto também, implicar no sentido utilitário do termo. A imagem
acima do cenário arborizado, com casas vista de cima e, à frente um garoto
criativo e aventureiro com seu carrinho de rolimã voador, pode produzir um
efeito contemplativo lúdico ou divertido, passar uma sensação de aventura,
adrenalina e até mesmo estimular o público buscar uma aventura, refletir no
tema da criatividade ou das invenções da humanidade, etc. Devido a esse
potencial de produzir efeito é que essa imagem pode ser apropriada como
instrumento de comunicação, propaganda ou como objeto de exposição. Vamos
observar abaixo essa questão do uso no sentido utilitário:
Acima à esquerda, o desenho
pode, em determinado contexto, ser utilizado como uma arte para uma exposição,
onde seu tema transmite a ideia de aventura e criatividade. À direita, o
desenho teve acréscimo de outras informações e foi aplicado a um cartaz de
comunicação visual para um evento de feira de quadrinhos, nesse momento, o
desenho é utilizado para atender uma necessidade de comunicação e marketing de
um cliente, agora numa relação de fins comerciais, e não mais, uma necessidade
de expressão pessoal do artista, logo, passou a ser uma ilustração. A ideia, de aventura e criatividade, foi deslocada
e explorada para a composição da mensagem de um cartaz publicitário, com
objetivo de passar uma mensagem para atrair um determinado público para um
evento de mercado. Para concluir, podemos dizer que o valor pragmático e
utilitário do desenho artístico, vai em direção ao contemplativo e ao estético,
enquanto, na ilustração a direção é ideológica e mercadológica. Essa distinção
se faz cada vez mais necessária na área da ilustração, para o ilustrador,
enquanto profissional, possa demarcar um lugar ético e uma identidade definida
e seu valor na sociedade.
Por: Marcio Ferreira de Araujo Miyazato é professor da Formação Profissional de Ilustração na Fundação Bradesco - Osasco.